sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Rotina

Entra um senhor alado de bigodes grandes e cara enfastiada.
- Você, amigo.
- Eu morri de bala, mesmo. Sempre fui bandido, não nego. Mas pedia a nossa senhora todas as noites que me desse uma luz, quem sabe uma vida diferente... As primeiras eu senti queimar, depois entreguei para Deus.
- E você.
- Eu morri de acidente. O carro invadiu o passeio, não pude nem me desviar. Foi tão rápido... É. Foi muito rápido... Essas coisas acontecem tão rápido que quando vi já era morto e estava aqui.
- Você, senhor.
- Pois então. Como pode ver eu morri de velho. Nunca fui de exageros. Bebi pouco, nunca fumei, era avesso a drogas e badalações. Trabalhei bastante, me casei, fui envelhecendo e morri. Morri dormindo. De repente fui puxado do sonho pra cá. Acho que fui bom e nunca me desviei do caminho do Senhor.
- Você.
Eu estava na cadeia por homicídio. Cadeia, sabe como é, não é. Sempre tem problema, confusão. Acabou que estava numa delas. Levei três facadas numa briga de facção. Sofri bastante até me desgarrar do corpo. Mas agora estando mais perto de Deus me sinto até melhor.
- Pois bem. Os senhores peguem os formulários, preencham e esperem na fila até chegar o dia do julgamento. Pode ser que demore, pode ser que não. Mas isso agora também pouco importa para vocês.
O formulário tinha 3.564 páginas. Sairam da sala sem mais palavra.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

ao dia do rock (13,07)

Aquele cara olhou pra mim, ele já sabia. Sentei na cadeira ele passou a tesoura três vezes e pá. Dali sai para a rua, já era hora, eu tomei duas ampolas. De uma roda de samba, saí para um show de rock. Aquele cabelo fazia com que eu fosse um ícone naquele lugar. Pediram meu som, mas eu sou muito prepotente. Dali a duas horas, eu subi. Jhonny b good. Tutti-frutti. Hit the road, jack! A galera foi ao delírio com aquele som. Até quem não é de chorar, chorou. Até quem não é de dançar, dançou. Long live roque enrrou.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Me fale dos amigos:

Olha que os amigos quando os há
É de mui benfeitoria trata-los com o que tens de melhor.
Porque um amigo conhece todos os seus defeitos
E mesmo assim o ama.

O amigo não te deixa sozinho na floresta
Quando aparece, de repente, o urso
E lhe fala aos ouvidos
Não andes com aqueles que te abandonam nas adversidades.

E continua valendo a máxima:
Aos amigos, tudo.
Aos inimigos o rigor da lei!
(essa é muito boa)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Movimentos peristálticos

"mulher, se não tivesse xibiu, podia morrer no ninho!"
"pinto devia ser vendido no açougue!"

se olharam. as duas rodas de amigos riram da ironia cronometrada. Iniciaram-se as apresentações.

Ele lançou seu melhor olhar irônico. Temperava com uma leve flexão de canto de boca.

Ela deu o sorriso mais feminino e sincero de sua vida.

Casaram-se. Têm um filho. Até que são felizes.

Quase não trepam.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Texto auto-explicativo

Escutei por aí que aquele texto era bem auto-explicativo. Ora, tenho para mim que todos os textos devem ser auto-explicativos. Trata-se de uma característica inerente ao texto uma vez que escrevemos para que outro entenda. Tendo em vista o meu escárnio (que muito bem poderia ser escarro) perante tal parecer escrevo agora o primeiro texto não auto-explicativo da história da humanidade. Ei-lo:

Carro colchonete bicicleta vai se fuder. Motor de caminhão triângulo gigolô forró.
Catatufas niguerigueri de ombufalá:
– Sabóia onquilomba odeon! – catapulta separar bizú black pau.
– Catraca!!!! – sebaraubipareu.
Nadadivas de ontimolbi fumegou rapagote.

Hahahaha! Que ótima piada. Você entendeu? Claro que não. Agora eu vou explicar já que o texto não é auto-explicativo.

Uma bicicleta bateu em um carro que fazia mudanças. O motor estragou e um gigolô conseguiu arrumá-lo com um trapézio uma vez que ele fazia parte de um conjunto de forró.
O dono exclamou impressionado:
– Quem diria! – comentando que o visual do malandro não dava mostras de que ele dominava os conhecimentos da mecânica.
– Não devemos julgar os outros pela aparência, seu tolo. – respondeu o gigolô, fulo da vida.
E assim foi cada um pro seu lado.

Mas... e a graça? Isso não é uma piada.

Porra, mermão! Já foi osso duro tirar alguma coisa daquele monte de palavra amontoada e você ainda quer achar graça. Vai se fuder, ô, meu!

quarta-feira, 24 de março de 2010

45 canais no pacote básico

originalmente postado (aqui um pouco editado) em www.rapaduradoeudes.blogspot.com, como comentário do texto: "a revolução quem faz é cada um"

O pensamento individualista foi uma bandeira dos "pobres" jovens que viviam em 1960, onde a robotização social começou a ser desmascarada. Uma resposta à racionalização iluminista, que eliminava qualquer resquício de imaginação e criatividade, em detrimento da funcionalidade. E continua sendo uma boa opção.

Não impôr seu ponto de vista, mas não ser feito de bobo. entreter-se, mas saber que as revoluções acontecem sim, todo dia, só não chegam nos jornais ou na busca do google. Por motivos óbvios. Que lutar faz parte, mas não por seu ponto de vista. Por todos os pontos de vista. Cada homem nesse mundo bebe um tipo de cachaça. a sua só é melhor pra vc.

Como bem citado por cassidy, em preacher. "um pouco de gentileza e boa educação: o mínimo que se deve fazer e o máximo que se pode esperar."

terça-feira, 16 de março de 2010

Elogio da Loucura a lá Roterdão

A loucura é a forma de os homens viverem bem entre si. Já dizia Erasmo de Roterdão - eu que fiz um acordo com outros comparsas portugueses que daqui pra frente só digo nome das coisas em bom português.
(Então fica aqui manifestada a minha indignação quando chamo o prezado, prezado, vejam bem, Erasmo como natural de Roterdão. Assim como direi Uímbledão, templo do futebol.)
Sendo louco todos lhe perdoam as maiores fraquezas, porque sois louco. Tem os miolos a lhe cozer nas têmporas. Não tens o juízo.
O louco é o bobo da corte. Aquele que fala mal do rei, e todos riem.
Inclusive o próbrio, "mas apenas quando constipado, ó, meu rei!"
- "Ha-ha-ha".
e todos riem.
Inclusive o rei.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Baseado na sociedade moderna

Você não sabe o que eu fiz com um fininho, amigo.
Peguei uma garrafa pet, porque eu sou da geração coca-cola
Mas também sou da geração reciclável
Fiz, abaixo da linha média dela, um furo
Peguei uma caneta Bic
Um produto existente graças ao petróleo
Olha, e só agora que eu vi porque os gringo norte-americano tão tão preocupados com essa parada de petróleo, iraque, afeganistão
Então.
Coloquei água até um pouco abaixo do furo.
Tirei a carga e enfiei a caneta a 45 º de inclinação com o eixo vertical na garrafa pet
(Pensou bobeira?)
Aí peguei e mandei brasa pela tampa.
Mermão!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

'bricolage'

Com a velha desculpa da falta de inspiração para escrever, me vem à cabeça o termo bricolage. Filho-da-puta que sou não pesquiso na desciclopédia, vou logo ao 'mainstream' e pergunto ao oráculo do século XXI o significado do termo. O google logo me aponta para a wikipedia.
Pois bem, a descrição do termo é a que segue: ctrl + c -> ctrl + v (salvo ressalvas)= O termo bricolagem - do Português Brasileiro, ou bricolage do Português [português] (há-há-há) - tem origem no francês bricolage (e não é que esse termo tem uma carinha de viadagem francesa!), é usado para designar as atividades que você mesmo realiza para seu próprio uso ou consumo, evitando deste modo, o emprego de um serviço profissional.
A arte seria a maior das bricolagens (que merda, toda vez que escrevo essa palavra parece alguma coisa gay, é foda...).
Por quê? Ora bolas, (ihhh! pára tudo! acho que eu estou desmunhecando de vez, esse papo de bolas, sei lá...)
Enfim - vamos resumir que a coisa tá encaminhando por uma vereda que não é muito a minha praia - bricolagem é um puta de um termo gay pacaralho, sacou?!
É isso.

Sidney Pedrosa é líder do sindicato dos homofóbicos de Parauapebas, município brasileiro de maior crescimento demográfico das últimas décadas... crescimento? uuuuui!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

E já começou a valsa.

FHC ataca Dilma, Lula ataca FHC, as obras vão sendo inauguradas e a propaganda eleitoral já opera a pleno vapor nos seu setor mais importante: os investimentos em campanha.

Sob os babados dos vestidos de gala, situação e oposição se vêem em posições atípicas, como muitas vezes aconteceu depois do fenômeno Lula. Sociais democratas ensaiam firme o movimento conhecido nos salões como "uso da máquina pública com fins eleitorais seguido de giro pra direita." A bancada governista encolhe-se, tentando evitar o descompasso de escândalos de última hora, deixando o sapateado pro homem da faixa verde-amarela.

"Tem gente que vai ficar doida de raiva com a inauguração das obras". Faça-me o favor, senhor presidente. Isso lá é postura de líder?

Todo presidente, antes de sair, fica nessa de reizinho. E, com artilharia versus base governista lutando, o máximo que acontece é uma nova inversão de papéis. Salvo as diferenças estruturais (gritantes, em última análise; assuntos pra outro dia) dos partidos, a principal função das eleições é pender a balança pra um dos lados burgueses.

A hierarquia do executivo brasileiro é viciada desde a instância municipal até o jatinho do presidente. Muda o partido, mudam as peças, trabalhos se descontinuam, são criados novos cargos para auditar antigos trâmites, incha-se ainda mais a máquina. A estrutura política mastiga as próprias pernas pra sobreviver, enquanto manda seus filhos flertarem com os barões, sarrando veladamente a procura de armas e moedas sob as anáguas.

É uma dança lenta, cheia de nuances. Decadente.
E pra lá de manjada. Vota lá.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

das estratégias lírico-analisantes na autodefesa do trabalhador comum


Em reportagem do jornal hoje, da nossa inestimável rede globo, motorista é pego alcoolizado e admite o uso:

"Tomei úma e to ino pra casa, ué."
900 pila de multa.

Pois bem, introduzido o tema da biritinha pré-sono, chega de rodeios.

Todo homem de bem, temente a deus e suportador do peso da economia merece um leve entorpecimento antes da sua confortável e merecida sonequinha.

Mas, muitas vezes, esta leve fuga pode ser arruinada por cidadãos odiosos. Eles besuntam um pouco de confiança nos cabelos e maçãzinhas do rosto e resolvem discutir assuntos sérios e relevantes em momentos que deviam ser ocupados pelo mais reluzente papo-furado.

Gurus da nova era, anarquistas impenitentes, impiedosos cientistas.
Sabem tanto sobre tantas coisas que você se pergunta como eles arrumaram tempo pra ir ao bar. Deve ser o tempo que eles economizam sendo parasitas sociais de suas mamães.

Portadores da palavra, esses homens passam os dias a propagá-la, semeando a sabedoria pelos caminhos honrosos que constróem a medida que passam. Seus humores são tão mordazes que causam calafrios, capim morre quando sente seus hálitos.

Pra se livrar destes peculiares, utilize-se de nosso novo método de auto-defesa contra poetas desocupados e analistas políticos de mercearia: quando ele rubricar aquela verdade absoluta que só sua categoria sabe proferir tão bem, peça um exemplo que prove a teoria.

E, quando ele der o exemplo já pré-concebido antes desta conversa, fruto de seu paranormal senso de antecipação (afinal, isto é um debate), espere ele falar. E então agarre-o pelas bolas:

"Me dê outro."

90% destes péla-sacos nunca mais lhe darão bom dia, meu amigo.
Imagine este prazer.

os outros dez por cento? terão outro exemplo. e alguns deles beberão com você, pro resto da vida.


de nada.

sábado, 30 de janeiro de 2010

o manifesto suspensório

Sob o impenitente escorrer dos dias, o homem deve ser autêntico em suas mínimas ações. Acomodar-se, dizer "não é problema meu" é trair os próprios ideais e chafurdar nas comodidades da vida moderna, abandonando o que nos sobrou de humanidade. diga que nunca sentiu-se sujo ao ignorar um pedido de ajuda e pode sumir deste espaço.

Alienar-se é uma armadilha atraente e suntuosa, posto que, sintonizados a mil comunicações, só podemos nos cansar. Atados à realidade por uma colcha de retalhos cosida pelos fios da informação, podemos muito bem nos ocupar apenas do que é imediato. podemos abdicar do trabalhoso envolvimento. mal dá tempo de ver todos os amigos, não é mesmo?

Oculte-se de seus fracassos e será mais leve. Ame o que já é seu e dormirá tranquilo. Impeça a consciência de se auto-analisar. Tudo falhará, em breves momentos. E estes míseros minutos virão com o peso dos anos. Neste momento, nu e sem suas ferramentas, estará irremediavelmente sozinho, auto-suficiente, em branco. Escreva algo que preste, dessa vez.

Batizo este post de "o manifesto suspensório". Chega de calças arriadas e orações por finas picas em nossas rabas. Chega de pasteurizar. A técnica é o presente e o passado. Chega a hora de escolher os instrumentos do futuro. Pense, se for de pensar. Aja, se for de agir. Mas pense, se for de agir. Aja, quando cansar-se de pensar.

use um suspensório e saia deste computador.
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