sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Rotina

Entra um senhor alado de bigodes grandes e cara enfastiada.
- Você, amigo.
- Eu morri de bala, mesmo. Sempre fui bandido, não nego. Mas pedia a nossa senhora todas as noites que me desse uma luz, quem sabe uma vida diferente... As primeiras eu senti queimar, depois entreguei para Deus.
- E você.
- Eu morri de acidente. O carro invadiu o passeio, não pude nem me desviar. Foi tão rápido... É. Foi muito rápido... Essas coisas acontecem tão rápido que quando vi já era morto e estava aqui.
- Você, senhor.
- Pois então. Como pode ver eu morri de velho. Nunca fui de exageros. Bebi pouco, nunca fumei, era avesso a drogas e badalações. Trabalhei bastante, me casei, fui envelhecendo e morri. Morri dormindo. De repente fui puxado do sonho pra cá. Acho que fui bom e nunca me desviei do caminho do Senhor.
- Você.
Eu estava na cadeia por homicídio. Cadeia, sabe como é, não é. Sempre tem problema, confusão. Acabou que estava numa delas. Levei três facadas numa briga de facção. Sofri bastante até me desgarrar do corpo. Mas agora estando mais perto de Deus me sinto até melhor.
- Pois bem. Os senhores peguem os formulários, preencham e esperem na fila até chegar o dia do julgamento. Pode ser que demore, pode ser que não. Mas isso agora também pouco importa para vocês.
O formulário tinha 3.564 páginas. Sairam da sala sem mais palavra.

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