segunda-feira, 23 de março de 2009

Um parecer sobre a compulsiva atração do homem moderno pela loucura

Enquanto cidadãos de bem discutem se a menina de nove anos deve parir ou abortar, se craques do futebol devem ganhar milhões, se traficantes devem morrer por vender drogas para jovens em busca de satisfação e prazer, se vão achar o culpado pelos aviões que explodem no ar ou no céu, se transeuntes que ignoram mendigos e trombadinhas vão para o céu, se o modelito dos bacanas que curtem férias em Las Vegas ou Maiâmi é adequado, arrojado, ou original; eu observo mais um movimento secreto se formando. Está surgindo um novo movimento assim como os conglomerados da mídia, a CIA e o FBI, os cartéis de remédios para AIDS. Eu o apelidei de Jornada pelo Enlouquecimento de Geral Uniformemente Específica, o Jegue. É isso mesmo.

Tem um monte de gente querendo fazer da sua loucura o padrão de normalidade. Eu me dirijo em especial àqueles que ainda não embarcaram para esse rol de perseguidores da personalidade alheia. Gente que acabou de se formar em psicologia e psiquiatria e que precisa de ganhar dinheiro e vai descobrir logo, logo, que o jeito mais fácil é fazer de cobaias esse monte de gente perdida no turbilhão do pensamento, da pós-modernidade, da tecnologia, que não se dá conta de perceber 1% do que a humanidade fez, que caminhos trilhou, o que é o capital, quem descobriu o Brasil, o porquê da violência...

Gente que não se conhecem um nada e que vão cair numa tremenda cilada de enganar otário. É que esses loucos que precisam sobreviver precisam de outros que acreditem que estão loucos. Então eles começam um projeto subterrâneo de convencer a pessoa a pensar que precisa acreditar que está louca. (Isso tudo é difundido na mídia conservadora de esquerda.)

Então aqueles que não eram loucos, mas que foram convencidos a se tornarem loucos – e que tem dinheiro a beça, diga-se de passagem – começam a conversar com os loucos que precisam de dinheiro e que convenceram aqueles que antes não eram loucos. No fim, os loucos que tem grana pagam para conversar com os loucos que precisam dela. Eu acredito na sua loucura, e a minha loucura me diz que... Eles então elaboram um parecer final revelando que o processo será duro, complicado, pois o ser humano nasce querendo comer a própria mãe, mas o tabu não permite, e que o pai é uma figura a ser destruída e enquanto esse processo não se completa não há liberdade psicológica (e nesse blábláblá, a conta bancária passando de um a outro) e que a humanidade caminha para um processo libertador e que, então, todos andaremos nus e comeremos nossos familiares e seremos iguaizinhos aos cães e aos gatos e aos elefantes e no fim descobriremos que nós somos macacos altamente inteligentes.

O papo é esse, um louco tentando consertar o outro, na verdade, o que é a normalidade?

Você com esse papo careta, não provou nada, não comeu ninguém, qual é a sua?

Você com esse papo esperto, não tem trabalho, não tem esposa, filhos, qual é a sua?

Vocês estão todos loucos pela busca da felicidade. Vocês não suportam um segundo de tristeza, não suportam suas próprias vidas porque as comparam com as vidas dos astros de hollywood, e, às vezes, não suportam suas próprias vidas pelo simples fato de que esse comportamento revela que você veio da elite. Claro, porque tratamento, psiquiatra, não é coisa de pobre. Complexo em meios mais humilde se resolve com faca, cachaça, mulher: um verdadeiro tratamento de choque.

Mas eu não quero convencer ninguém a deixar de acreditar que está louco. Eu mesmo, queridos, sou o maior deles.

Joàn Clifford é especialista em arte rupestre e tumular, entende tudo, do início dos trabalhos artísticos daqueles macacos há mil anos atrás a o porquê de os vermes nos cemitérios preferirem as tripas ao cérebro.


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